Nem médicos reconhecem a dislexia.
70%
dos profissionais de saúde e Educação que lidam com o problema, segundo
estudo da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, tem
dificuldade para identificar o transtorno
As
reguadas nas mãos e as aulas sentado sozinho, no canto da sala, são
algumas das lembranças Escolares de Dorival Câmara Leme, de 51 anos.
Seus professores nunca conseguiram perceber que ele, em vez de
preguiçoso, era disléxico.
Essa dificuldade para identificar o transtorno atinge 70% dos
profissionais de saúde e Educação envolvidos diretamente no diagnóstico
do problema, segundo um estudo da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo (FCMSCSP).
Leme só descobriu que tinha dislexia aos 49 anos. O distúrbio compromete
a aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração. Em geral, a
criança é bastante inteligente, mas seu desempenho Escolar é fraco. Até
descobrir o transtorno, Leme conta que viveu com a sensação de que tinha
“alguma coisa errada” com ele.
“Mas não sabia o que era. Quando descobri que era disléxico foi um
alívio saber que eu não era um óvni, um estranho no ninho”, brinca ele,
que é engenheiro. “Se eu tivesse descoberto antes, acho que teria sido
muito bom para a minha autoestima, eu cresceria ainda mais bem
resolvido.”
O diagnóstico precoce é capaz de evitar “sequelas emocionais”, explica a
psicopedagoga Debora Silva de Castro Pereira, doutora em Educação pela
Universidade Autonoma de Barcelona. “A pessoa (não diagnosticada) cresce
achando que tem limitações e sofre por errar muito. Quando descobre que
é disléxica na fase adulta, começa a entender as dificuldades”, avalia.
Há vários sinais que podem servir de pista para suspeitar de dislexia.
Mas, na pesquisa da Santa Casa, os 186 profissionais analisados – entre
pedagogos, fonoaudiólogos, pediatras e psiquiatras – tiveram um baixo
desempenho ao responder um teste com 15 questões de múltipla escolha que
traziam informações essenciais sobre o distúrbio.
“São profissionais de especialidades envolvidas com o diagnóstico e
acompanhamento dos casos e, portanto, deveriam ter um conhecimento
básico”, explica Ana Luiza Navas,professora do curso de Fonoaudiologia
da FCMSCSP e orientadora do estudo. Para ela, falta uma formação
contínua para os profissionais. “Os melhores no teste foram os
psicopedagogos e neuropsicólogos”, completa.
“Quanto mais cedo for o diagnóstico, melhor para a criança, para a
família e para a Escola, que poderá trabalhar melhor com o aluno”,
explica a fonoaudióloga Maria Angela Nogueira Nico, psicopedagoga e
coordenadora científica da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).
Se não for diagnosticado, o disléxico fica mais suscetível a problemas
emocionais. “Pode achar que é burro, quando na verdade o disléxico é
inteligente”, afirma Maria Angela. Ela frisa que o problema não tem
relação com déficits intelectuais. O célebre físico Albert Einstein, por
exemplo, era disléxico. “Qualquer problema cognitivo, intelectual, já
descarta a possibilidade de a pessoa ser disléxica.”
‘Diagnóstico não é tão simples’
As especialistas ouvidas pelo JT explicam que o diagnóstico da dislexia
não é simples. “Depende de uma avaliação multidisciplinar”, diz Ana
Luiza Navas, professora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Para o distúrbio
ser confirmado, o individuo é submetido a avaliação de pedagogos,
psicólogos, fonoaudiólogos, pediatras, entre outros profissionais.
Outra dificuldade no diagnóstico brasileiro são as falhas no sistema
educacional. Há crianças que não aprenderam porque não tiveram
oportunidades adequadas.
“O diagnóstico só pode ser feito após a alfabetização”, ressalta Debora
Silva de Castro Pereira, doutora em Educação pela Universidade Autonoma
de Barcelona. “Até lá, as dificuldades são comuns”, explica.
Já o tratamento depende da faixa etária, segundo Maria Angela Nogueira
Nico, coordenadora científica da Associação Nacional de Dislexia (ABD).
“Os pequenos, no começo daalfabetização, são acompanhados por
fonoaudiólogos e psicopedagogos. Adolescentes e adultos também costumam
contar com o acompanhamento de psicólogos".
A dislexia afeta cerca de 4% da população estudantil, segundo
estimativas da ABD. Há, inclusive, famosos que têm o problema, como é o
caso do ator norte-americano Tom Cruise.
Conheça os sinais de alerta
Pré-escola – O fato de a criança apresentar alguns dos sintomas abaixo
não significa necessariamente que ela seja disléxica. Especialistas
recomendam aguardar o processo dealfabetização, mas nessa fase há sinais
que merecem atenção:
- Dispersão
- Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem
- Dificuldade em aprender rimas e canções
- Baixo desenvolvimento da coordenação motora
- Dificuldade com quebra cabeça
- Falta de interesse por livros impressos
Idade Escolar – Caso a criança continue apresentando alguns dos sintomas
é necessário um diagnóstico e acompanhamento adequado – para que possa
dar continuidade aos estudos e evitar sequelas emocionais:
- Dificuldade na aquisição e automação da leitura e escrita
- Desatenção e dispersão
- Dificuldade em copiar conteúdos de livros e da lousa
- Desorganização geral
- Confusão entre esquerda e direita
- Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou sentenças longas e vagas
Adulto - Sem receber um diagnóstico ou o acompanhamento adequado, o
disléxico poderá apresentar uma série de problemas secundários,
desencadeados pela dislexia:
- Dificuldade na leitura e escrita
- Memória imediata prejudicada
- Dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua
- Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia)
- Dificuldade em organização
- Prejuízos afetivos e emocionais, tais como depressão, ansiedade, baixa
autoestima e, em alguns casos, tendência ao consumo de drogas e álcool
Fonte: Jornal da Tarde (SP)/ Felipe Oda 28/03/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário