sexta-feira, 13 de abril de 2012

    Inovação Social, Bom Começo

Governo, Inovação e Legislação
As preocupantes estatísticas do ensino e educação no nosso país podem mudar.O Projeto Bom Começo é um exemplo de como a parceria entre governo, mercado e universidade pode promover inovação a favor da sociedade
Por Carla Pedrosa
Dados dos Ministérios da Saúde e da Educação são preocupantes: 30% das crianças em idade escolar sofrem com problemas visuais que podem influenciar negativamente no processo de aprendizagem. Miopia, astigmatismo, estrabismo são apenas alguns desses problemas. A Síndrome de Irlen é outro distúrbio de aprendizagem relacionado à visão. Ela afeta 46% dos indivíduos com déficits específicos de aprendizagem e leitura e 33% dos casos de Transtorno de Déficit de Atenção e de Dislexia, mas ainda é pouco conhecida em nosso país pelos profissionais da educação. Foi pensando em suprir essa carência que o Hospital de Olhos – em parceria com a UFMG, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), a Fapemig e o CNPq – desenvolveu toda uma metodologia e tecnologias para levar às escolas dos municípios de Minas Gerais.
O Bom Começo
Há 15 anos, o Dr.Ricardo Guimarães e a Dra. Márcia Reis Guimarães, oftalmologistas e diretores da Fundação Hospital de olhos, perceberam que o teste de letrinhas, exame normalmente feito para detectar acuidade visual, não era suficiente para identificar problemas de leitura. Os doutores descobriram que grande parte das crianças possui boa acuidade visual, mas têm distúrbio de óculo motricidade, ou de adaptação à luz, que dificultam a leitura. Para detectar e solucionar esse distúrbio seria necessário desenvolver uma abordagem diferente da convencional.
Detectada a necessidade de se desenvolver nova metodologia, a Dra. Márcia Guimarães se dedicou a estudar os casos de crianças com alterações visuais, apesar da acuidade visual normal. Foi a partir de então que se consolidou o conhecimento clínico e científico para orientar o desenvolvimento da tecnologia necessária a um diagnóstico cada vez mais precoce do problema.
A Fundação Hospital de Olhos já possuía um pré-projeto de desenvolvimento de tecnologia e metodologia de baixo custo e visava desenvolvê-lo e divulgá-lo, a princípio em âmbito regional e, posteriormente, nacional. Para tanto, apresentou a sugestão de projeto para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A UFMG concordou com a proposta com a ressalva de que o projeto apresentasse uma visão epidemiológica e enfoque em saúde pública. Firmou-se, então, uma parceria com o Laboratório de Bioengenharia da UFMG (LABBIO). Foi com essa parceria que surgiu o Projeto Bom Começo: Programa de Acompanhamento da Saúde na Escola (PBC). “À medida que houve essa interação e começou a atividade de pesquisa ampliaram-se os horizontes, o que desembocou no Projeto Bom Começo”, informa Marcos Pinotti, fundador do LABBIO.
O Projeto Bom Começo é uma ação social direcionada à erradicação dos Distúrbios de Aprendizagem Relacionados à visão, sobretudo a Dislexia e a Síndrome de Irlen. Tal Síndrome não é detectada por exames oftalmológicos de rotina. Somente profissionais capacitados a respeito da metodologia Irlen podem efetuar o diagnóstico adequado, obtido através de um screening, avaliação para constatação de distorções visuais.





As quatro etapas que compõem o Projeto Bom Começo consistem na capacitação de profissionais, realização de exames de triagem, envio de resultados para o banco de dados e emissão de relatórios individuais e coletivos.
Os professores capacitados estarão aptos a reconhecer quando o aluno apresenta, por exemplo, sintomas parecidos aos da Síndrome de Irlen. “O nosso projeto se baseia 50% na capacitação de professores e dos gestores de educação para que eles possam identificar as crianças que estão com problemas”, afirma o Dr. Ricardo Guimarães, diretor da Fundação Hospital de Olhos.  O curso de capacitação é também oferecido a profissionais da saúde - psicólogos, fonoaudiólogos, neuropsicólogos, pedagogos, psicopedagogos e médicos - para auxiliar no tratamento.
Detectados os problemas, as medidas para solucioná-los são simples e de baixo custo. Para a criança diagnosticada com Síndrome de Irlen, por exemplo, poderá ser fornecida, pela própria escola, uma overlay. Marina Roberta Nogueira, pesquisadora do Hospital de Olhos de Belo Horizonte, explica que a overlay é uma lâmina que fica sobreposta ao texto e dá conforto visual à criança, ao diminuir o contraste entre o branco e o preto; motivo da interferência no processamento visual. Marina destaca que “por meio dessa solução simples, a criança terá maior qualidade no aprendizado”.

Professores utilizam overlay no curso de capacitação em Belo Horizonte




 


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